ZÉ DO LITRO E A MÁGICA

 zé do Litro surpreendeu muita gente quando  se entregou a Jesus, como afirmava sua mãe. Logo ele que vivia com arruaças pelas ruas do bairro, agora era  uma pessoa de credibilidade.  

Seu Carneiro, pediu até a presença da imprensa para documentar o fato:

-Esse homem era um verdadeiro desacerto! Mas hoje está livre de tudo!

Dona Isaura, uma beata fervorosa, dissertou:

-Quantas vezes eu num vi  ele caído, me pedindo um caldim de caridade,  no fundo do poço!

O exemplo do Zé do Litro  provocava verdadeiros milagres. A vizinhança inteira comentava:

-Mulher, depois que ele parou de beber, o meu marido nunca mais bebeu todo dia!

-Já o meu, neguinha, largou de jogar baralho!

 -E o Expedito, minha filha?  Deixou de lado as cotrovias que tinha! Agora diz que a única mulher da vida dele sou eu!

Todos falavam em coro quando tocavam no nome do Zé do Litro:

-Santo, santo é o nome dele!

 O vereador do bairro já pensava em enviar à câmara proposta para um nome de rua do mais ilustre morador. O assunto, porém, não agradou aos amigos  que ficaram injuriados:

-Arre égua! Essa ninguém vai engolir! Nome de rua é muito pouco!

-Taí, Sarrabui, tu agora sem quer deu uma dentro! Tem que virar nome de avenida!

-Mas pode ser também de um novo estádio de futebol! Afinal, nós num vamos ser sede da Copa do Mundo em 1914?

Enquanto isso, Zé do Litro tentava colocar em prática um sonho que trazia desde criança: o de ser mágico. E passou a ensaiar o seu primeiro espetáculo. Mas dois amigos de crença deram o pulo:

-Mas num pode fazer isso! Ele se converteu! Nós temos que fazer alguma coisa!       -

-Pois é, então vamos falar com ele agora! Esse negócio de jogo, de mágica é coisa do belzebu!

No dia seguinte, Odorico e o Chico do Açougue chegaram à casa do Zé do Litro,     enquanto o homem fazia desaparecer duas laranjas.

-Mas isso é um roubo! Você vai roubar as laranjas do povo!O outro falou em cima das buchas:

Eita, pau pereira! Começa assim roubando duas laranjinhas!

Aproximou-se mais e falou:

Tá querendo virar de novo uma ovelha desgarrada, irmão?

Zé do Litro nada respondia permanecia concentrado numa das atrações do seu show. O homem insistia:            

-Sai, satanás, desinfeta desse corpo que num te pertence!

Mas, inexplicavelmente, quem sumiu foi o tal amigo.

Ele só  foi aparecer no hospital, cinco dias depois,  com hematomas por todo o corpo e sem dizer uma só palavra.

Os vizinhos acreditam que o tal sumiço do irmão de fé foi a mágica de estréia do Zé do Litro...