sábado, 24 de dezembro de 2011

MEU QUERIDO PAPAI NOEL

Fui uma das muitas crianças que acreditou em Papai Noel.
Quando se falava em Natal, a minha inocência não lembrava de Jesus.
Mas Ele estava ao meu lado, talvez até sorrindo ao me pegar escrevendo a cartinha pro Papai Noel.
A meninada alegre dizia o que havia pedido.
Era uma festa!
-Pedi um carrim dos Bombeiros!
-E eu uma bicicleta!
As meninas só tinham um pedido: bonecas.
E a gente tinha que dormir cedo porque Papai Noel ficaria zangado e não viria deixar o presente.

O dia amanhecia com nossa zoada pelas calçadas agarrados  aos brinquedos.  

O Dalberto vinha da outra rua puxando seu carrinho, uma lata cheia de areia.
Brincávamos a valer.
Não existia maldade entre nós.

Mas numa noite de Natal, flagrei minha mãe colocando o presente.
Lembro que olhei pra ela e tentei disfarçar.

Mas não houve jeito. Papai Noel morreria ali, diante dos meus  cinco anos.
Comecei a ficar adulto a partir daquele momento...

MENESCAL E O POTE

 O Menescal bebia na dele, pensativo, o que despertou a atenção do colega de infância, o Barbosinha:
- Mas o que é que tá acontecendo que tu tá desse jeito, macho véi?
- Eu tava pensando aqui, compadre, tem uma caveira de burro enterrado no quintal lá de casa!
- Mas quem foi que te falou isso, Menescal? Que conversa mais sem pé nem cabeça!
- O dinheiro que entra lá em casa parece que sai na mesma hora pela porta do quintal!
- Ah, mas tu tá escondendo aí um bocado de arrumação! Quer ver uma coisa? Tu  bebe demais, aí o dinheiro só pode voar!
- Né isso não, Barbosinha, se fosse só isso tava bom demais!
- Homem de Deus, tu num bebe assim igual a mim, de 5 em 5 minutos! Tu é um minutista, bebe a cada minuto!
  Menescal foi se irritando:
- Macho, tu se parece com a Franci, a minha mulher! Tudo  pra ela é a bebida!
  E quando chegou em casa, a Helenita foi logo falando:
- Amorzim, eu vi no jornal que tem uma casa boa lá na Granja Portugal! Vambora dar uma espiada lá mais com pouco!
- No ato, eu já tô doido pra sair dessa casa! Agora eu me invoquei! Ô casa devagar é essa, Deus que me perdoe!
- E eu vou dizer uma coisa, meu bem, lá o ambiente é outro, num tem essa mundiça daqui não!
 Com dois dias depois botaram os bregueços em cima da camionete velha do Moisés e rumaram para a nova casa. Os vizinhos correram tudo para a calçada. E começaram a fofocar:
 -Eita, mas só vem fariseu pra essa casa! Aquele caboco tem cara de papudim!
- E a mulher, minha filha? Já reparou que coisa mais cafona! Olha que vestido peba!
 Mas o casal se mantinha na dele, dando os últimos retoques com uma vassoura de piaçaba passando levemente sob as telhas:Deram início a mudança. Foi então que a mulher gritou lá do banheiro:
 -Menescal, acredite se quiser, mas aqui tem até aquele negócio, o chuveiro!
 Fez pose de ricaça e continuou:
- Pra falar a verdade, eu nem tinha visto esse bicho! Só usei o pote em toda a minha vida!
- Então bora deixar o pote, né, querida?
- De maneira nenhuma, Menescal, vá buscar logo ele!
  E quando o homem vinha agarrado com o pote nas costas, escorregou e foi caco pra todo lado. Ele teve que ser socorrido no hospital próximo, onde falou assim que deu entrada:
- Sei não, mas a falta de sorte já começou! Vai ver o Barbosinha tem razão. Eu preciso deixar de ser um bebedor minutista.
  E deu o desfecho:
- Vou virar horista, só uma lapada de hora em hora...