terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Madame

Por falta de pagamento,  O Conselho de Medicina teve que interditar grande parte de um dos mais importantes hospitais públicos por falta de condições para funcionar. Só não disse o nome. Segundo a madame Isa, aquela que traz tudo de volta, você paga mas seu dinheiro voltará. ¨
"Falô", madame. 

A ENROLADA DO CURURU

 O Chico Cururu reuniu os amigos no bar Buraco da Loura, e, entre uma cachaça e outra, falou, categórico:
- Prezados amigos, quero que vocês tudim fique sabendo que eu vou dar o meu grito da independência!
 Souzinha, amigo de infância, indagou:
- Mas peraí, Chico, esse tal desse grito de independência já foi dado! Eu era menino, estudava na escolinha da dona Marocas!
 Costinha, perguntou no ato:
- E o que é que tu vai vender, meu brode?
- Boa pergunta, prezado! Só vou vender artigos importados. A Carminha, uma dona que conheci numa viagem, é uma muambeira fina!
 Abriu uma caixa de chocolate e prosseguiu:
- O pessoal do  Sebrae é só me convidando  pra mim dar uma palestra, mas sacomé, ando muito ocupado!
 O negócio estava dando lucro. E o homem mandou buscar no alto sertão jaguaribano a Toinha do Peba, uma neta de cangaceiro. E explicava:
- Duvido que com a Toinha aí na frente algum malaca meta as caras.
  A mulher metia medo. Era baixinha, entroncada e ainda tinha de quebra uma cicatriz que ia de ouvido a outro. Foi então que apareceu um sujeito vestido como policial.,O bigode que ostentava chamava a atenção. Encarou a mulher com uma conversa bonita:
- Dona, tem ladrão no quintal! Eu tava na esquina e vi quando ele pulou! E é meu dever prender esse desgraçado, nem que eu tenha que derramar até a última gota do meu sangue!
- Pode deixar, autoridade! Eu mesma vou pegar esse fariseu pelas bitacas!
  Mas quando voltou, não viu mais o falso militar. Muito menos a mercadoria que acabar de chegar. Quando o Chico Cururu soube do acontecido, quase enfarta.:
- Só tem um jeito! Bora procurar esse vagabundo nessas pracinhas que vivem entupidas de malandros!
Logo os dois chegaram a uma praça muito freqüentada por malandros. Toinha do Peba  bateu a vista num soldado da mesma altura e de idêntico bigode. Não teve dúvidas.:
- É aquele dali, seu Chico! Acabou de ser derrubado pelo bigode! Mas ô cara burro, devia ter tirado o bigode e a farda!
 Ao ser abordado, o militar ficou uma fera. Toinha do Peba partiu pra cima do homem e abriu o maior fuá. O Chico Cururu pedia pra ela tirar o bigode:
- Só pode ser suposto, um disfarce!
- Mas eu tô tirando, puxando aqui mas o bicho num sai! Parece que ele botou foi cola maluca!
  Os dois entraram numa fria. Ou melhor, num úmido xadrez onde estão  presos por calúnia, difamação, além de desacato à autoridade.

O biriteiro boiola

Matias era mais uma vítima do alcoolismo. E pior ainda: quando bebia assumia outra personalidade. Quando bebia virava gay. Os amigos mais chegados sabiam do fato, e comentavam na pracinha principal do bairro:
-Olha, mermão, se eu num fosse amigo do Matias eu não estava assim como estou, preocupado!
-Eu também, cara! De repente ele resolve beber e passa a desmunhecar!
-Tá lembrado da última vez que ele bebeu? Cismou de sair como a rainha do Acaracuzinho!
-Mas nunca mais ele andou biritando, isso é o que é mais importante!
-Pois é, depois que arranjou a Valdenora, tá outro! Disse pra mim que a bebida não fazia mais a cabeça dele!
Há cinco anos não triscava em bebida. E a Valdenora quando via alguém bêbado, falava:
-Ainda bem que o meu Matias já vai fazer cinco anos que abandonou essa desgraça! Agora ele tá vivendo só pra mim!
Amulher estava enganada. Ele estava tendo um caso com a Vilma, uma colega de trabalho.
-Vilma, minha flor, tu tá sabendo que meu caso com a Valdenora já minchou! Por que nós num junta os nossos bregueços e se manda daqui!
-Mas tu é doido, Matias! Tá esquecida que eu tenho um filhinho pequeno?
E por acaso tu não ver o meu lado? Eu vivo com a Valdenora já faz cinco anos!
A mulher rebateu em um tom de voz forte:
Quer saber de uma coisa,? Vamos encerrar o nosso papo aqui! Eu acho que o que eu senti por tua pessoa foi só uma paixão de menina do buchão!
Que é isso, Vilma, pirou de vez?
-Nada não, agora deixa eu ir simbora que já tá ficando muito tarde!
-E como é que a gente fica? Fala alguma coisa?
- Não ficamos mais! Faça de conta que nada aconteceu entre a gente! Eu vou viver a minha vida, cuidar do meu filho e ir à luta!
Aquele adeus foi uma punhalada na alma apaixonada do Matias. Ele saiu meio atordoado pelas ruas e logo deu de cara com alguns amigos de copo. Entrou no meio deles virando a cachaça na boca..E logo endoidou. Começou a passar a mão sobre os cabelos de um sujeito que estava no bar.
-Qualé, meu prezado! Que história é essa? Vai logo se afastando porque eu num gosto de macho não!
-Sabia que tu é o máximo, meu neguim? Eu gosto de caboco assim que nem tu, ó!
Os dois acabaram se atracando na base de muita porrada. Em seguida, foram encaminhados à delegacia plantonista. Matias já está livre. Mas preso a um incontrolável remorso que lhe traz por entre lágrimas: belas recordações do tempo em que permaneceu sóbrio.